sábado, 9 de abril de 2011
Federação do Piauí diz sofrer 'retaliação política da CBF
Cada vez mais poderoso, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014, Ricardo Teixeira, deu nova mostra, nesta semana, de ser imune às contrariedades. O alvo é o paupérrimo futebol de um dos Estados mais carentes do País.
No seu site, a CBF anunciou:
- Reunida nesta quarta-feira, dia 6 de abril, com a presença de 25 Federações filiadas, a Assembléia Geral da CBF, tendo em vista as considerações que fazem parte do documento abaixo, resolve afastar, em caráter preventivo, a Federação de Futebol do Piauí de todas as competições e demais atividades promovidas pela CBF, até que comprove ter ocorrido o regular processo eleitoral de escolha dos dirigentes dos poderes da entidade para o mandato 2011/2015, com fiel atendimento às normas do Estatuto da FPF, da CBF e da Fifa.
Em janeiro, o ex-vice-presidente da Federação de Futebol do Piauí, Cesarino Oliveira [foto ao lado], conquistou, com uma liminar, o lugar do presidente anterior, Joaquim Lula Ferreira, genro do ex-vice de Teixeira, Alfredo Nunes.
- Não tivemos nenhuma defesa, não tivemos direito de ir à assembleia. Acreditamos piamente em razões políticas, no envolvimento da política do futebol com a política partidária - reclama Oliveira.
As regras das entidades esportivas não permitem decisões da Justiça Comum. Funcionários da federação piauiense tentaram acessar o sistema eletrônico de comunicação com a CBF e não conseguiram. Ela está apartada do futebol nacional. E toda sua arrecadação depende do repasse da confederação, que não reapareceu na sua conta bancária neste ano.
- Estamos sofrendo retaliação - afirma Oliveira. - Encontramos a federação falida, arrasada. E a CBF, que deveria estar dando apoio neste momento, dava todo o apoio pra gestão passada. A essa agora, nenhum. Não somos oposição à CBF ou a Ricardo Teixeira.
No site da federação, lê-se a mensagem no alto: "Piauienses, nós não nos renderemos, vamos continuar a lutar para defender o inalienável direito do povo piauiense de ter um futebol de qualidade".
O início do Campeonato Piauiense está mantido para domingo (10) com oito equipes asseguradas: Comercial, Parnahyba, Princesa do Sul, Barras, Ríver, Piauí, Picos e Flamengo. Os jogos de 4 de Julho e Cori-Sabbá foram adiados em uma semana. Cesarino conta que, bancados respectivamente pelas prefeituras de Piripiri e Floriano, os dois clubes sofrem interferência política. Acrescenta que as administrações municipais, ligadas ao ex-presidente da federação, condicionam o auxílio financeiro à solução do impasse com a CBF. "Isso ninguém pode fazer de uma hora pra outra. A gente sente muito", diz o cartola.
Confira a entrevista.
Terra Magazine - Como o senhor avalia essa punição à Federação de Futebol do Piauí?
Cesarino Oliveira - Não tivemos nenhuma defesa, não tivemos direito de ir à assembleia. Acreditamos piamente em razões políticas, no envolvimento da política do futebol com a política partidária. O ex-gestor aqui (da federação) é presidente do diretório estadual do PTB. O sogro é também filiado, foi prefeito, vice-presidente do Ricardo (Teixeira na CBF) durante muito tempo, doutor Alfredo Nunes. Acreditamos em represália. Ninguém quer perder o poder dessa forma.
Infelizmente aconteceu, e estamos sofrendo retaliação, que não vai ao encontro de nada num futebol como o nosso, que precisa de tudo. Encontramos a federação falida, arrasada. E a CBF, que deveria estar dando apoio neste momento, dava todo o apoio pra gestão passada. A essa agora, nenhum. Não somos oposição à CBF ou a Ricardo Teixeira. Não nos colocamos como fonte de qualquer situação que trouxesse algum constrangimento à CBF.
Qual é a punição?
Estamos alijados de qualquer competição ou ato da CBF. Árbitro daqui não pode apitar fora. Está impedida a chegada ou venda de atletas.
Desde quando os times piauienses estão impedidos de negociar jogadores?
Até quarta-feira passada realizamos transferência. O presidente da Federação do Rio de Janeiro (Rubens Lopes da Costa Filho) enviou e-mail para que todas as federações não fizessem nenhum ato administrativo junto à Federação do Piauí. Se não me engano, em 23 de fevereiro. Chegou para nós também. Só a federação do Ceará relutou em fazer transferências. Ele (Costa Filho) passou por problema semelhante a esse aqui, e tomou essa decisão. Ele presidiu a assembleia, já estava mal intencionado com o Piauí, não sei o que a atual diretoria fez a ele. Não temos o prazer de conhecê-lo.
E o que a Federação do Piauí vai fazer?
O caso continua na Justiça Comum porque não deu mérito definitivo da questão. Tem 90 dias. Dia 12, acontece a audiência de instrução e julgamento. Se a decisão for favorável a nós, a CBF vai desobedecer a Justiça?
Mas a federação terá que acionar a Justiça contra a decisão da CBF.
A federação vai ter que agir.
Até para os clubes piauienses disputarem a Série D, no segundo semestre...
Claro.
Como foi o problema do processo eleitoral aí?
O gestor passado não podia ser candidato. A Lei do Esporte diz que você não pode se candidatar se estiver inadimplente com a Previdência Social e com a prestação de contas da própria entidade. Ele estava há dois anos sem fazer prestação de contas. Referente aos anos de 2008 e 2009, não foi feita nenhuma assembleia de prestação de contas. Recorremos à Justiça Desportiva, que disse que o foro competente era a Justiça Comum, deu-nos uma certidão, fazendo esse encaminhamento, e então procuramos a Justiça Comum. Isso já tem 90 dias. Mandado de segurança, contestação, tudo foi negado. Não há nenhum sentido, a não ser que a lei seja rasgada e que seja revogada em razão desta citação. Não entendemos por que a CBF, em nenhum momento, nos consultou. Eu sei que ela tem conhecimento de que ela deveria ter, para tomar uma decisão dessa, já que não fomos ouvidos para nada.
O senhor perdeu a eleição por um voto?
Perdemos por um voto (14 a 13). No próprio dia da eleição, 5 de dezembro de 2010, entramos com um pedido de impugnação contra a candidatura deles e clubes que não tinham regularidade para voto. Mas isso tudo foi negado pelo presidente da mesa. No momento seguinte é que fomos bater à porta do Tribunal de Justiça Desportiva, que declinou da competência para julgar tal fato e encaminhou para a Justiça Comum, que nos deu ganho, nos deu uma liminar. Tomei posse em 10 de janeiro. A partir desse dia, a CBF, que fazia uma ajuda à federação, cessou por completo, mas aceitou que fôssemos seu representante na realização dos jogos da Copa do Brasil, porque servimos pra isso. Realizamos o jogo entre Comercial e Palmeiras em Teresina. E, na hora de organizar nosso campeonato (estadual), eles, que já não estavam nos ajudando em nada, nada, nada, ainda vêm nos afastar preventivamente. Acreditamos que a assembleia deveria se reunir com pauta específica para isso.
Então, como convinha à CBF, ela permitiu que a Federação de Futebol do Piauí realizasse o jogo pela Copa do Brasil?
Nessa hora a CBF nos legimitou. Já estávamos à frente da federação. Mas, desde que assumimos, ela cessou qualquer contato e ajuda financeira, a não ser quando da realização da Copa do Brasil, em que tivemos contato.
De quanto é esse repasse da CBF à federação?
O dinheiro que entrava na conta da federação era de R$ 30 mil a R$ 100 mil, em 2010. Solicitei (extrato) ao banco. Era variável a cada mês.
Qual é o critério para variar tanto?
Eu infelizmente não tenho essa resposta.
A ajuda da CBF representava quanto da receita da Federação de Futebol do Piauí?
Num Estado como o nosso, representava 100%. A Federação do Piauí vivia exclusivamente desse repasse da CBF.
A federação não possui outras fontes de arrecadação?
Não. Seria de 5% dos jogos. A partir do momento em que você tinha 200 pessoas (pagando ingresso) por jogo, 5% de nada é nada, né? Então, era insignificante. A federação tem uma dívida hoje de aproximadamente R$ 3 milhões. Tem uma dívida de R$ 2,197 milhões com a Receita Federal. Dívidas com a concessionária de água, IPTU, gastos do futebol, empréstimos, INSS e comércio somam mais de R$ 600 mil. Sem ter receita alguma que possa fazer frente a isso. É impagável, né? Tem que ter uma parceria com a CBF para que isso seja resolvido. Nos últimos 20 anos, a CBF é que mantinha a federação.
E como o senhor tem dirigido a federação desde janeiro sem essa única fonte de arrecadação?
Temos nos cotizado aqui, procurado amigos, para manter luz, água, telefone, a manutenção. Do próprio bolso.
Além da ajuda da CBF, o futebol piauiense precisa de um projeto de desenvolvimento, não?
Nós estamos procurando isso. A federação não vai resolver sozinha essa situação, que vem há mais de 20 anos. A eleição foi em 15 de dezembro. Na véspera, o presidente da federação fez um empréstimo de R$ 96 mil e não pagou uma conta de luz, água ou telefone.
Quanto tempo Joaquim Lula Ferreira ficou no poder?
Continuadamente, ele fez 25 anos. Lula foi tesoureiro, vice-presidente e, como presidente, já tinha 19 anos.
O senhor já participava do futebol?
Fui atleta, técnico, dirigente, tenho uma grande vivência no futebol do Piauí. Sou formado em Educação Física, sou empresário do ramo de material esportivo. Era atacante, mas só disputei um campeonato. Fui preparador físico, depois treinador, por muito tempo. Fui vice-campeão brasileiro de juniores pelo Piauí em 1982, perdemos para o Rio Grande do Sul. Ganhamos aqui por 2 a 1 e perdemos por 3 a 1 lá. Depois fomos campeões pelo Auto Esporte, seu único título (estadual, em 1983).
Em 2014, haverá uma Copa do Mundo no Brasil, serão gastos bilhões de reais, 12 cidades terão estádios novos ou reformados. Como o senhor vê o futebol minguando nos Estados mais periféricos?
Depende. Quem está na Série A, está melhor, né? É a elite. Nós aqui participamos da última divisão, que não tem frequentemente grandes espetáculos, ficamos à mercê de ter um jogo por ano na Copa do Brasil. Tivemos o Palmeiras contra uma equipe nossa (em 2011).
E, diria, um descaso em se tratando de futebol, notadamente o nosso. O futebol cearense, há cinco anos, estava praticamente na mesma situação que a nossa. Hoje tem equipe na primeira, na segunda, na terceira e na quarta divisão. Nosso futebol está no fundo do poço, na UTI, é falta de trabalho, dedicação, compromisso e transparência nos seus atos administrativos.
Fonte: Terra
Assinar:
Postar comentários (Atom)

Nenhum comentário:
Postar um comentário
A responsabilidade do comentário é do próprio internauta. O Blog não se responsabiliza por qualquer tipo de pensamento aqui postado.